"Sendo diplomata, assinou os vistos de sua vontade, com grande sacrifício pessoal, enorme generosidade e contra as ordens do Governo de então. Arriscou a liberdade e o futuro, para defender vidas, em defesa dos direitos humanos."

Padre Vítor Melícias

"Graças a Aristides de Sousa Mendes, Portugal ficou na história do séc. XX como um país que apoiou os refugiados durante a Segunda Guerra Mundial."

Irene Pimentel

Resumo da Vida de Aristides

Aristides de Sousa Mendes, em 1940, protagonizou a desobediência justa, quando era cônsul em Bordéus. Não acatou a proibição de Salazar de se passarem vistos a refugiados. A sua vida estilhaçou-se por completo. Esse foi o feito que marcou o seu nome na História contemporânea. No entanto, para a maioria da população portuguesa o seu nome é praticamente desconhecido. Daí a relevância do nosso trabalho, que pretende dar a conhecer um homem que salvou milhares de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.


“Foi um herói vulgar. Não estava preso a causas. Só estava preso á sua consciência”

Jornalista Ferreira Fernandes

Aristides é considerado o “Schindler Português”, muito antes do alemão começar a sua actividade solidária e humanitária para com os judeus. Revendo a verdade histórica, Oskar Schindler é que foi o “Aristides Alemão”. Esta comparação é ainda injusta porque Oskar Schindler salvou menos pessoas que Aristides.

Fundação Aristides de Sousa Mendes, Cabanas de Viriato e Palacete Pascal

Fundação Aristides de Sousa Mendes, Cabanas de Viriato e o Palacete Pascal

A Fundação Aristides de Sousa Mendes tem uma origem recente. Foi criada no dia 23 de Fevereiro de 2000, depois de o cônsul ter sido reconhecido e reabilitado pelo Ministério de Negócios Estrangeiros, em 1988. Antes de mais, a Fundação pretende perpetuar a memória de Aristides de Sousa Mendes e a sua acção exemplar, sendo alguém que arriscou a carreira diplomática, contrariando, por sua conta e risco, ordens superiores, em nome de princípios universais de solidariedade e de humanidade. A reabilitação foi um processo lento, que só ficou concluído catorze anos depois da queda do anterior regime.

Para sobreviver à situação de destituição do cargo diplomático, o cônsul teve que se desfazer da sua casa em Cabanas de Viriato que, assim, e a partir daí, entrou numa fase de ruína crescente, até aos nossos tempos.

Uma das acções da Fundação foi que a casa de Aristides fosse adquirida pelo estado, a fim de ser recuperada e reclassificada como Casa-Museu. Isto só foi possível com a doação de 50 mil “contos” (250 mil euros) á Fundação pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, a 27 de Março de 2000.
Depois de reabilitada, a casa irá conter o espólio do cônsul que a Fundação têm estado a recolher e irá dar uma particular atenção à questão dos direitos humanos e à história das perseguições durante a II Guerra Mundial. A casa vai ter:
- Um Museu dedicado a Aristides de Sousa Mendes, - Um Centro de Memória e arquivos,- Uma Biblioteca e um Centro de Documentação,- Um Auditório. (...indispensável para acolher e permitir debates aos grupos visitantes deste lugar de memória.).
O "palacete" do Passal esta dominado por uma imensa estátua do Cristo Rei, que Sousa Mendes tinha mandado esculpir em Louvain em 1933. Esta estátua foi transferida de comboio, e por isso foi necessário dividi-la em 3 partes, ajustados uma vez no sítio com os meios limitados da época.

Antes de 1940

Antes de 1940

Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches foi baptizado numa pequena aldeia do concelho do Carregal do Sal, no sul do distrito de Viseu. Este pertenceu a uma família aristocrática com terras, católica, conservadora e monárquica e o pai de Aristides era membro do supremo tribunal.
Aristides licencia-se em Direito pela Universidade de Coimbra e logo após instala-se em Lisboa em 1907, tal como o seu irmão gémeo. Ambos seguem uma carreira diplomática; Aristides ocupará deste modo diversas delegações consulares portuguesas pelo mundo fora: Zanzibar, Brasil, Estados Unidos da América.
Em 1929 é nomeado Cônsul-geral em Antuérpia, cargo que ocupa até 1938. O seu empenho na promoção da imagem de Portugal não passa despercebido. É condecorado por duas vezes por Leopoldo III, rei da Bélgica, tendo-o feito oficial da Ordem de Leopoldo e comendador da Ordem da Coroa, a mais alta condecoração belga. Cerca de dez anos depois de serviço na Bélgica, Salazar, presidente do Conselho de Ministros e ministro dos negócios estrangeiros, nomeia Sousa Mendes cônsul em Bordéus, França.
Em 1940, com 55 anos, aproxima-se do fim da sua carreira e é pai de catorze filhos. Politicamente nunca se fez notar.

Reportagem de outro Blog

Quem salva uma vida, salva o mundo"


Peço especial atenção e debate para este texto, sobretudo pelo facto de sentir um orgulho enorme, de ter a participação do neto de um Heroi Nacional:Aristides Sousa Mendes! Infelizmente um heroi que poucos conhecem, mas que hoje vamos tentar informar mais algumas pessoas! É urgente dar o devido valor e este homem do Mundo!Contamos com o Franciso Sousa Mendes para fazer uma homenagem ao avô! Acreditem, estou muito orgulhosa em tê-lo neste blog.




A história de Aristides de Sousa Mendes

Só para terem uma ideia mais prática, Aristides de Sousa Mendes foi considerado o Shindler português. O percurso durante o Holocausto foi muito diferente, mas ambos tiveram uma coisa em comum, salvaram a vida de milhares de judeus.




Quando os Nazis invadiram a França em 1940, Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português em Bordéus, contrariando as ordens de Salazar, assinou vistas para fugitivos. Assim conseguiu salvar milhares de vidas, antes de ser afastado do cargo pelo ditador.
Em 1940, dado o avanço das tropas alemãs de Norte para Sul e de Leste para Oeste, só Portugal era porta de saída segura para um algures a salvo dos desígnios de Hitler. Eis porque, solicitando um visto, acorriam ao consulado português de Bordéus inúmeros refugiados, sobretudo judeus. Mas a 13 de Novembro de 1939 já Salazar proibira, por circular, todo o corpo diplomático português de conceder vistos a várias categorias de pessoas, inclusive a "judeus expulsos dos seus países de origem ou daqueles donde provêm".
Aristides começou por ignorar a circular para, depois de instado a fazê-lo, a desrespeitar totalmente. Passava vistos a quantos lho solicitassem. Quando a 8 de Julho de 1940, já sem mais hipóteses de transgressão, regressou a Portugal da fronteira de França com a Espanha, tinha salvo milhares de vidas, assinando vistos de dia e de noite, até à exaustão física.
Regressando a Portugal, Aristides foi dado como culpado no inquérito disciplinar e despromovido. Salazar reformá-lo-ia compulsivamente com uma pensão mínima. Os recursos de Aristides para os tribunais seriam em vão. Sem dinheiro, Aristides era socorrido pelo irmão e pela comunidade judia portuguesa. Do recheado solar da família, em Cabanas de Viriato (Viseu), tudo ia sendo vendido. Os filhos de Aristides iam se dispersando, a mulher morreu, e ele casou novamente.


No dia 3 de Abril de 1954, Aristides morreu de uma trombose cerebral e de uma pneumonia no Hospital da Ordem Terceira em Lisboa. Embora o epitáfio na sua lápide reconheça os méritos de Aristides com as palavras "Quem salva uma vida, salva o mundo", a sua morte não veria qualquer comentário ou informação na imprensa portuguesa. Seria assim ignorado pelo país.
Ter-se-ia de esperar 34 anos para que Aristides fosse justamente reintegrado e louvado oficialmente em Portugal: Em 1988 na Assembleia da República, o Dr. Jaime Gama do Partido Socialista pediu a reabilitação e integração póstuma de Aristides no corpo diplomático, o que foi concedido por unanimidade pelos partidos com assento na altura. Desde 1993 Aristides é o único português que faz parte dos "Righteous Among the Nations", no Yad Vashem Memorial em Israel.



O Testemunho de Francisco Sousa Mendes - (neto)
Há dias descobri um blog que me interessou particularmente- falava de Auschwitz e dos 60 anos da libertação dos prisioneiros(ou do que restava deles...) daquele campo de morte. Pus-me logo em sentido, não é para menos! Li àvidamente, embora não fosse, para mim, nada de novo. Como não podia deixar de ser, deixei um comentário ao artigo, que me prendeu tanto a atenção, e, passado um pouco, estava a falar com a autora, a Cereza, através do MSN. Tivemos uma conversa recheada de interesse e falámos sobre o meu avô- encantou-me o entusiasmo dela, fascinou-me a sua personalidade, que aprofundei nos seus escritos. Pediu-me que fizesse um texto, para fazer parte do seu blog...vou tentar com aquilo que tenho na cabeça e com a satisfação que me dá.
Nos dias de hoje não se dá o valor de outrora a questões morais e éticas, dá-se mais importância ao material e ao supérfluo. Não há princípios, como havia antigamente e louva-se as faltas desses valores. Houve uma transformação radical na nossa sociedade, e parece-me que não foi para melhor. O meu avô pertencia a uma família tradicional que tinha muito alto os valores morais e os princípios do altruísmo. Não hesitou quando sentiu que podia fazer alguma coisa por gente que estava a beira de deixar de o ser, pessoas que fugiam em pânico de alguma coisa que sabiam que era terrível, que apenas queriam (sobre)viver. Era fácil invocar pretextos e desculpas para passar ao lado, para não se deixar envolver numa situação que implicava sérios riscos, mas, felizmente, houve alguém no lugar certo, na hora certa...e, esse, foi o meu avô! Como todos os outros, tinha ordens estritas para não passar vistos a refugiados de guerra, mas os tais valores impediram-no de virar a cara para o lado.



A sua casa abriu-se para centenas de pessoas que durante dias não arredaram pé, pois no íntimo, sabiam que dali viria a salvação. Não distinguiu credos nem raças, eram pessoas como ele e passaram a ser a sua própria família. Foram, talvez 30.000, ficou exausto e sem nada; os filhos, para sobreviver, tiveram que emigrar para terras distantes e não mais viram o seu pai. Ele enriqueceu com o seu acto de coragem, ficou bem com a sua consciência e morreu na miséria total, mas feliz...chegou ao fim no Hospital da Ordem Terceira, embrulhado num hábito de monge franciscano, cedido pelo hospital(franciscano), por não ter sequer vestes suas para descer à terra que o viu nascer.Era um cidadão do Mundo e deixou uma herança aos seus descendentes, direi, a toda a Humanidade. Bem hajam.Francisco de Sousa Mendes


in bbb. blog

Mais Informação

A Segunda Guerra Mundial

Quando a Segunda Guerra Mundial teve inicio, Aristides de Sousa Mendes ainda era cônsul em Bordéus. As tropas de Adolf Hitler avançaram rapidamente sobre a França. Salazar manteve a neutralidade de Portugal.
Pela Circular 14, Salazar ordena aos cônsules portugueses distribuídos pelo mundo que se recusem a conferir vistos às seguintes categorias de pessoas:
"estrangeiros de nacionalidade indefinida, contestada ou em litígio; os apátridas; os judeus, quer tenham sido expulsos do seu país de origem ou do país de onde são cidadãos"
Entretanto, em pleno ano de 1940, o governo francês refugiou-se temporariamente na cidade de Bordéus, fugindo de Paris antes da chegada das tropas alemãs. Milhares de refugiados que fogem ao avanço Nazi dirigiram-se para a cidade. Muitos deles afluem ao consulado português desejando obter um visto para a “liberdade” (visto de entrada a Portugal ou para os Estados Unidos, onde Aristides). Se Aristides seguisse as ordens governamentais distribuiria visto com parcimónia.
Já no final de 1939, Sousa Mendes tinha desobedecido às instruções do seu governo e emitido alguns vistos. Entre as pessoas a quem Aristides passou vistos encontra-se o Rabino de Antuérpia Jacob Kruger. Pessoa que faz compreender a Aristides que há que salvar os refugiados judeus.
A 16 de Junho de 1940, Aristides decide entregar um visto a todos os refugiados que o pedirem:
"A partir de agora, darei vistos a toda a gente, já não há nacionalidades, raça ou religião".
Com a ajuda dos seus filhos e sobrinhos e do rabino Kruger, Sousa Mendes carimbou passaportes, assinou vistos, usando todas as folhas de papel disponíveis.
Confrontado com os primeiros avisos de Lisboa, Aristides disse:
"Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus".
Uma vez que Salazar tomara medidas contra o cônsul, Aristides continuou a sua actividade de 20 a 23 de Junho em Baiona (França), no escritório de um vice-cônsul e na presença de dois outros funcionários de Salazar. A 22 de Junho de 1940, a França pediu um armistício à Alemanha Nazi. Aristides, mesmo a caminho de Hendaye, continua a emitir vistos para os refugiados que cruzam com ele a caminho da fronteira, uma vez que a 23 de Junho, Salazar demitira-o de suas funções de cônsul.
Apesar de terem sido enviados funcionários para trazer Aristides, este lidera com a sua viatura uma coluna de veículos de refugiados e guia-os em direcção à fronteira, onde do lado espanhol não existe qualquer telefone. Por isso mesmo, os guardas fronteiriços não tinham sido ainda avisados da decisão de Madrid de fechar as fronteiras com a França. Sousa Mendes impressiona os guardas, que acabariam por deixar passar todos os refugiados, que com os seus vistos puderam continuar viagem até Portugal.
O seu castigo no Portugal de Salazar
A 8 de Julho de 1940, Aristides regressa a Portugal, sendo punido pelo governo de Salazar. Este priva Sousa Mendes, pai de uma família numerosa, do seu emprego diplomático por um ano, diminui em metade o seu salário, antes de o enviar para a reforma. Para além disso, Sousa Mendes perde o direito de exercer a profissão de advogado. A sua licença de condução, emitida no estrangeiro, é lhe confiscada.
O cônsul demitido e sua família sobrevivem graças à solidariedade da comunidade judaica de Lisboa, que facilitou a alguns dos seus filhos os estudos nos Estados Unidos. Dois dos seus filhos participaram no Desembarque da Normandia.
Aristides frequentou, juntamente com os seus familiares a cantina da assistência judaica internacional, onde causou impressão pelas suas ricas vestimentas e sua presença. Certo dia, teve de confirmar:
"Nós também, nós somos refugiados".
Em 1945, Salazar alegrou-se, publicamente, por Portugal ter ajudado os refugiados, recusando-se no entanto a reintegrar Sousa Mendes no corpo diplomático.
A sua miséria será ainda maior: venda dos bens, morte de sua esposa em 1948, emigração dos seus filhos (excepto um).
Aristides de Sousa Mendes faleceu muito pobre a 3 de Abril de 1954 no hospital da Ordem Terceira (hospital dos franciscanos) em Lisboa. Não possuindo um fato próprio, foi enterrado numa túnica de franciscanos.

Fundação Aristides de Sousa Mendes e Casa, Cabanas de Viriato e o Palacete Pascal

A Fundação Aristides de Sousa Mendes tem uma origem recente. Foi criada no dia 23 de Fevereiro de 2000, depois de o cônsul ter sido reconhecido e reabilitado pelo Ministério de Negócios Estrangeiros, em 1988. Antes de mais, a Fundação pretende perpetuar a memória de Aristides de Sousa Mendes e a sua acção exemplar, sendo alguém que arriscou a carreira diplomática, contrariando, por sua conta e risco, ordens superiores, em nome de princípios universais de solidariedade e de humanidade. A reabilitação foi um processo lento, que só ficou concluído catorze anos depois da queda do anterior regime.

Para sobreviver à situação de destituição do cargo diplomático, o cônsul teve que se desfazer da sua casa em Cabanas de Viriato que, assim, e a partir daí, entrou numa fase de ruína crescente, até aos nossos tempos.

Uma das acções da Fundação foi que a casa de Aristides fosse adquirida pelo estado, a fim de ser recuperada e reclassificada como Casa-Museu. Isto só foi possível com a doação de 50 mil “contos” (250 mil euros) á Fundação pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, a 27 de Março de 2000.
Depois de reabilitada, a casa irá conter o espólio do cônsul que a Fundação têm estado a recolher e irá dar uma particular atenção à questão dos direitos humanos e à história das perseguições durante a II Guerra Mundial. A casa vai ter:
- Um Museu dedicado a Aristides de Sousa Mendes,- Um Centro de Memória e arquivos,- Uma Biblioteca e um Centro de Documentação,- Um Auditório. (...indispensável para acolher e permitir debates aos grupos visitantes deste lugar de memória.).
O "palacete" do Passal esta dominado por uma imensa estátua do Cristo Rei, que Sousa Mendes tinha mandado escultar em Louvain em 1933. Esta estátua foi transferida de comboio, e por isso foi necessário dividi-la em 3 partes, ajustados uma vez no sitio com os meios limitados da época.