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A Segunda Guerra Mundial

Quando a Segunda Guerra Mundial teve inicio, Aristides de Sousa Mendes ainda era cônsul em Bordéus. As tropas de Adolf Hitler avançaram rapidamente sobre a França. Salazar manteve a neutralidade de Portugal.
Pela Circular 14, Salazar ordena aos cônsules portugueses distribuídos pelo mundo que se recusem a conferir vistos às seguintes categorias de pessoas:
"estrangeiros de nacionalidade indefinida, contestada ou em litígio; os apátridas; os judeus, quer tenham sido expulsos do seu país de origem ou do país de onde são cidadãos"
Entretanto, em pleno ano de 1940, o governo francês refugiou-se temporariamente na cidade de Bordéus, fugindo de Paris antes da chegada das tropas alemãs. Milhares de refugiados que fogem ao avanço Nazi dirigiram-se para a cidade. Muitos deles afluem ao consulado português desejando obter um visto para a “liberdade” (visto de entrada a Portugal ou para os Estados Unidos, onde Aristides). Se Aristides seguisse as ordens governamentais distribuiria visto com parcimónia.
Já no final de 1939, Sousa Mendes tinha desobedecido às instruções do seu governo e emitido alguns vistos. Entre as pessoas a quem Aristides passou vistos encontra-se o Rabino de Antuérpia Jacob Kruger. Pessoa que faz compreender a Aristides que há que salvar os refugiados judeus.
A 16 de Junho de 1940, Aristides decide entregar um visto a todos os refugiados que o pedirem:
"A partir de agora, darei vistos a toda a gente, já não há nacionalidades, raça ou religião".
Com a ajuda dos seus filhos e sobrinhos e do rabino Kruger, Sousa Mendes carimbou passaportes, assinou vistos, usando todas as folhas de papel disponíveis.
Confrontado com os primeiros avisos de Lisboa, Aristides disse:
"Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus".
Uma vez que Salazar tomara medidas contra o cônsul, Aristides continuou a sua actividade de 20 a 23 de Junho em Baiona (França), no escritório de um vice-cônsul e na presença de dois outros funcionários de Salazar. A 22 de Junho de 1940, a França pediu um armistício à Alemanha Nazi. Aristides, mesmo a caminho de Hendaye, continua a emitir vistos para os refugiados que cruzam com ele a caminho da fronteira, uma vez que a 23 de Junho, Salazar demitira-o de suas funções de cônsul.
Apesar de terem sido enviados funcionários para trazer Aristides, este lidera com a sua viatura uma coluna de veículos de refugiados e guia-os em direcção à fronteira, onde do lado espanhol não existe qualquer telefone. Por isso mesmo, os guardas fronteiriços não tinham sido ainda avisados da decisão de Madrid de fechar as fronteiras com a França. Sousa Mendes impressiona os guardas, que acabariam por deixar passar todos os refugiados, que com os seus vistos puderam continuar viagem até Portugal.
O seu castigo no Portugal de Salazar
A 8 de Julho de 1940, Aristides regressa a Portugal, sendo punido pelo governo de Salazar. Este priva Sousa Mendes, pai de uma família numerosa, do seu emprego diplomático por um ano, diminui em metade o seu salário, antes de o enviar para a reforma. Para além disso, Sousa Mendes perde o direito de exercer a profissão de advogado. A sua licença de condução, emitida no estrangeiro, é lhe confiscada.
O cônsul demitido e sua família sobrevivem graças à solidariedade da comunidade judaica de Lisboa, que facilitou a alguns dos seus filhos os estudos nos Estados Unidos. Dois dos seus filhos participaram no Desembarque da Normandia.
Aristides frequentou, juntamente com os seus familiares a cantina da assistência judaica internacional, onde causou impressão pelas suas ricas vestimentas e sua presença. Certo dia, teve de confirmar:
"Nós também, nós somos refugiados".
Em 1945, Salazar alegrou-se, publicamente, por Portugal ter ajudado os refugiados, recusando-se no entanto a reintegrar Sousa Mendes no corpo diplomático.
A sua miséria será ainda maior: venda dos bens, morte de sua esposa em 1948, emigração dos seus filhos (excepto um).
Aristides de Sousa Mendes faleceu muito pobre a 3 de Abril de 1954 no hospital da Ordem Terceira (hospital dos franciscanos) em Lisboa. Não possuindo um fato próprio, foi enterrado numa túnica de franciscanos.

Fundação Aristides de Sousa Mendes e Casa, Cabanas de Viriato e o Palacete Pascal

A Fundação Aristides de Sousa Mendes tem uma origem recente. Foi criada no dia 23 de Fevereiro de 2000, depois de o cônsul ter sido reconhecido e reabilitado pelo Ministério de Negócios Estrangeiros, em 1988. Antes de mais, a Fundação pretende perpetuar a memória de Aristides de Sousa Mendes e a sua acção exemplar, sendo alguém que arriscou a carreira diplomática, contrariando, por sua conta e risco, ordens superiores, em nome de princípios universais de solidariedade e de humanidade. A reabilitação foi um processo lento, que só ficou concluído catorze anos depois da queda do anterior regime.

Para sobreviver à situação de destituição do cargo diplomático, o cônsul teve que se desfazer da sua casa em Cabanas de Viriato que, assim, e a partir daí, entrou numa fase de ruína crescente, até aos nossos tempos.

Uma das acções da Fundação foi que a casa de Aristides fosse adquirida pelo estado, a fim de ser recuperada e reclassificada como Casa-Museu. Isto só foi possível com a doação de 50 mil “contos” (250 mil euros) á Fundação pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, a 27 de Março de 2000.
Depois de reabilitada, a casa irá conter o espólio do cônsul que a Fundação têm estado a recolher e irá dar uma particular atenção à questão dos direitos humanos e à história das perseguições durante a II Guerra Mundial. A casa vai ter:
- Um Museu dedicado a Aristides de Sousa Mendes,- Um Centro de Memória e arquivos,- Uma Biblioteca e um Centro de Documentação,- Um Auditório. (...indispensável para acolher e permitir debates aos grupos visitantes deste lugar de memória.).
O "palacete" do Passal esta dominado por uma imensa estátua do Cristo Rei, que Sousa Mendes tinha mandado escultar em Louvain em 1933. Esta estátua foi transferida de comboio, e por isso foi necessário dividi-la em 3 partes, ajustados uma vez no sitio com os meios limitados da época.

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